Page 39 - Reflexão sobre São José
P. 39
manteve uma relação equilibrada com Maria, dando-lhe um tratamento caloroso, diferente
daquele que talvez agradava às outras mulheres do seu tempo. Lucas diz-nos que foi Maria, a
mãe a falar, quando o Menino foi encontrado, mesmo estando ambos os genitores presentes, e
não José, o pai (cf. Lc 2,41-52). Depois do reencontro no Templo, o nome e a atividade de José
foram mais mencionados em sentido direto e ativo, mas apenas em referência à pessoa de Jesus
(cf. Mt 13,55). A sua missão de dar o estatuto jurídico a Jesus como Filho do Homem e
descendente de Davi tinha sido cumprida e, como um servo obediente que tinha feito o que
devia fazer, afastou-se tranquilamente da cena.
A disposição amável e humilde de José não deve de modo algum ser confundida com uma
atitude de deixar ir ou com a atitude de quem se esquiva das responsabilidades, como alguns
poderiam querer interpretar o episódio do reencontro no Templo quando ele deixou a palavra a
Maria (cf. Lc 2,41-52). José estava profundamente imerso nos seus deveres e cuidava da família
a ele confiada, tanto que era identificado como o conhecido carpinteiro de Nazaré (cf. Mt 13,55)
e considerado um homem justo (cf. Mt 1,19). Era pai e chefe da Santa Família em sentido pleno,
e desempenhava os seus deveres não só em relação às necessidades sociais, mas sobretudo em
relação à vontade divina (cf. Mt 2,13).
Ser um dirigente ou, melhor ainda, um chefe, significa ter algo que é confiado aos seus próprios
cuidados, que pode ser um tesouro, ou um império com um povo que partilha a mesma
ideia/visão das pessoas por quem o líder foi escolhido, e que atua como seu súbdito. Em todo
caso, onde há um líder, também deve haver alguém para liderar. Muito mais do que governar as
coisas, a responsabilidade do líder é, antes de mais, governar outros do mesmo tipo que aquele
que governa. José era o chefe da casa de Nazaré e ciente da natureza extraordinária da sua
vocação, tinha-se tornado ainda mais humilde. Onde reina maior poder, o administrador torna-
se mais humilde, especialmente se percebe a confiança depositada sobre os seus ombros. José
sabia o seu lugar como o primeiro membro da Santa Família – sendo o chefe, mas estava ciente
da sua indignidade nas coisas do Senhor. Era humilde e não se considerava à altura de nenhum
dos principais protagonistas da salvação humana, nomeadamente Jesus e Maria, com quem
vivia. Como judeu fervoroso, conhecia a distância entre Deus e o homem e desejava respeitá-la;
ouvira as advertências sobre a aproximação da presença do Senhor (cf. Ex 19,12; Ex 40,1-38) e
lera que aqueles que vêem o Senhor face a face não permanecerão vivos (Genesis 32,30; Dt 5,24;
17
Reflexões sobre s. josé