Page 43 - Reflexão sobre São José
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Na tradição judaica
Esta conotação negativa do trabalho foi transformada num valor positivo na tradição
judaica. Uma dimensão correta da labuta humana é restabelecida na seguinte reflexão
bíblica. O trabalho é apreciado e considerado como uma dimensão fundamental do
homem desejado por Deus numa relação correta com Ele e com a criação. O trabalho não
deve tornar-se um ídolo ou um valor absoluto, mas deve permanecer sempre ligado à
oração e subordinado ao dia de descanso, um dia dedicado exclusivamente ao culto a
Deus.
Na tradição judaica, o trabalho está intimamente relacionado com a Torá. Um
pensamento do sábio Gamaliel é muito significativo a este respeito: "É bom que o estudo
da Torah seja acompanhado de alguma ocupação lucrativa, porque a atividade gasta em
ambos está longe do pecado: enquanto que quando o estudo da Torah não é combinado
com outra obra, acaba por fracassar e causar pecado" (citado em Elena Bartolini, Il lavoro
nella tradizione ebraica, em Il lavoro opera delle nostre mani, 101).
Pode dizer-se que a transmissão de conhecimentos práticos que permitem trabalhar está
ao nível da obrigação de ensinar a Torah aos seus descendentes. De fato, "se um homem
aprende dois parágrafos da Torah de manhã e dois da tarde, e durante todo o dia faz o seu
trabalho, é-lhe considerado como se tivesse feito a Torah na sua totalidade" (ibidem, 102
). Compreende-se então a obrigação de cada pai ensinar uma profissão ao seu filho. Falhar
nesta tarefa é predispô-lo a tornar-se um ladrão. "O homem é obrigado a ensinar uma
profissão ao seu filho; quem não ensina uma profissão ao seu filho, ensina-lhe a tornar-
se um ladrão" (Talmud).
Apesar do pecado dos antepassados, o desígnio do Criador, o sentido das Suas criaturas e,
entre elas, do homem, chamado a ser cultivador e guardião da criação, permanecem
inalterados. "Viverás pelo trabalho das tuas mãos, serás feliz e desfrutarás de todas as
coisas boas", diz o Salmo 128.
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