Page 30 - Reflexão sobre São José
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delas possa surgir a ação de Deus. Aqui a fé está em jogo. A fé tem a ver com o acolhimento,
             este é o primeiro verdadeiro dado a ser reconhecido como nosso.                Para  acolher,  para
             seguir a obra de Deus. Segui-lo, ir após ele. Acolher a Deus significa permitir que a Sua obra
             opere em nós; surpreender-nos com graças que nunca teríamos pensado. Chamados a
             viver, sabendo que há sempre uma obra de Deus a satisfazer. Tomar, guardar, nutrir, esse
             trabalho. As nossas tribulações são as ocasiões em que nos mostramos crianças.

             Dizer sim a Deus é uma graça para pedir incessantemente. É muito difícil, mas possível. É
             precisamente quando deixamos de nos opor, de rejeitar coisas, pessoas, situações, que
             vivemos na eternidade, no céu. Dizer sim ao amor de Deus é permitir que a eternidade se
             abra dentro de nós.

             Em suma, o que é que Jesus, José e Maria têm em comum? Isto oferece-nos o estatuto da
             grandeza  do  Reino  de  Deus.  Maria:  ao  acolher  o  anúncio  do  anjo.  José:  em  toda  a  sua
             atividade como esposo e pai. Jesus: no Getsêmani, como Filho, rende-se à vontade do Pai.
             "Faça-se em mim segundo a vossa palavra" (Lc 1,38), "Ele fez como o anjo lhe ordenara"
             (Mt  1,24)  e  "Não  se  faça  a  minha  vontade,  mas  faça-se  a  vossa  vontade"  (Lc  22,46).
             Expressões  que  dizem  a  mesma  coisa:  confiança  em  Deus.  Deste  lado,  a  aventura  que
             conduzirá à redenção. No Getsêmani, a grandeza da nossa luta manifesta-se mostrando à
             nossa humanidade a capacidade de confiar em Deus.

             Voltar a viver na consciência de serem filhos de Deus chamados à confiança é o maior dos
             desafios  dados  ao  coração  do  homem.  E  certamente,  esta  pandemia  tem  oferecido  esta
             possibilidade. Em última análise, como homens de fé, cristãos, conscientes da nossa filiação
             divina em virtude do batismo, reconhecemos que há sempre uma vontade de entrar.

             Para  além  de  qualquer  discurso  razoável,  reflexão,  consideração,  leitura  sociológica,
             econômica,  cultural...  O  cristão  é  aquele  que,  chamado  a  fermentar  a  história,  se
             reconhece numa história de salvação feita de oportunidades inesperadas; jamais pesada
             na  balança  do  gosto  ou  não  gosto;  sofro  mais  ou  sofro  menos.  Uma  viagem,  como  o
             imprevisível e o inesperado, que nos chama sempre à confiança e por isso nos convida ao
             discernimento profundo do coração à luz da razão.

             Mais  do  que  escrutinar  a  realidade,  o  crente  é  chamado  a  caminhar  na  história  da
             salvação, que para nós é consumada hoje, agora; bem no meio de uma pandemia, que,
             embora  perturbando  todas  as  nossas  realidades  estabelecidas,  é  também  um  apelo  a
             reconsiderar a verdade íntima e profunda dos acontecimentos: cada história de salvação
             é um caminho de redenção. O Deus do amor, da ternura, não faz mais do que operar isto.

             É-nos sempre devolvida a responsabilidade da escolha, da perspectiva. A capacidade de
             saber como trabalhar e viver sabiamente nas coisas da vida.

             Aprender  a  cada  vez  a  arte  de  penetrar  nos  meandros  do  Mistério,  que,  apesar  da  sua
             imprevisibilidade  e  inacessibilidade,  se  torna  uma  possibilidade  constante  de  se
             reconhecer amado e, por isso, capaz e capaz de amar.   José de Nazaré era apenas isto.


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