Page 26 - Reflexão sobre São José
P. 26

A  questão  vem  de  si:  o  que  está  a  acontecer  pode ser  considerado  obra  de  Deus? Uma
             questão legítima, que se abre aos nossos olhos, horizontes de esperança; diversamente,
             talvez, da instintiva súplica para libertar-nos deste evento pandémico, que nos encerraria
             no desespero e no medo cego, à espera de algum sinal do céu.

             Pedir a Deus o dom da Sabedoria para entrar, mesmo na tragédia deste evento, naquilo
             que  é  de  qualquer  modo  o  seu  conduzir  e  acompanhar  a  história;  de  modo  a  colher  o
             momento de salvação.

     OPERADORES DE ESPERANÇA

             Toda a experiência bíblica tanto do Antigo como do Novo Testamento demonstra uma
             experiência constante capaz de reconectar cada acontecimento: entrar no plano de Deus,
             aderir à vontade de Deus; entrar, para compreender com Deus o seu significado. Disto
             Jesus Cristo será o seu anunciador singular como Filho, na busca contínua da vontade do
             Pai a que se deve conformar.

             Talvez seja precisamente este o lugar onde amadurece a verdade profunda da relação de
             cada um com Deus. Reconhecer que existe um plano, uma vontade, a de Deus, que fala e
             questiona. Compreende-se ainda melhor a exortação da Primeira Carta de Pedro (3,15):
             "Mas adorai o Senhor Cristo nos vossos corações, sempre prontos a responder a quem vos
             perguntar  a  razão  da  esperança  que  há  em  vós".  Como  é  que  nós  cristãos  temos  sido
             operadores  desse  essencial  testemunho  de  salvação  na  história?  A  pandemia  tem
             chamado seriamente cada cristão a reconhecer-se como um operador desta esperança.
             Como ouvimos na parábola (Mt 13,33) do fermento, que escondido e silencioso é capaz de
             fermentar a massa; ou do convite para ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13).

             Temos  de  reconhecer  que  ajudamos  no  relançamento  de  interpretações  teológicas
             desviantes sobre as origens da pandemia, apresentada como castigo ou flagelo de Deus
             pelos pecados dos homens. Interpretações de tons moralizantes que têm, embora talvez
             na  sua  razoabilidade,  o  perigo  de  mercantilizar  a  misericórdia  de  Deus  no  do  ut  des:
             abundantemente e, em todo caso, derramada na história. Mesmo "a tentação do milagre"
             apareceu como a única oração a dirigir ao coração de Deus, como se fosse o mágico de
             serviço, que ao som de uma varinha de condão faria desaparecer o vírus. Tudo isto tem a
             ver com sagas fantásticas; ao contrário do que o Temor de Deus convida como atitude.

             A  capacidade  madura  de  se  dirigir  a  Ele  como  a  um  Pai,  reconhecendo-O  como  Todo-
             Poderoso no amor.

     JOSÉ: ARTESÃO DE PERSPECTIVAS

             José de Nazaré também neste tempo se mostra como um mestre de vida, lembrando-nos
             que: há um plano de Deus no qual entrar e não uma realidade a evitar. A passagem de
             referência bíblica Mt 2,19-23 apresenta os dois últimos sonhos de José. O pedido é mais
             uma vez claro. José deve levar Maria e o Menino e regressar à terra de Israel. O que poderia


       4  4   Reflexões sobre s. josé
   21   22   23   24   25   26   27   28   29   30   31