Page 24 - Reflexão sobre São José
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FUNDAMENTO PARA A ESPERANÇA
Nesta simples reflexão tentaremos questionar-nos sobre o profundo valor, que este
tempo de emergência deu de uma forma muito especial a cada crente. Fá-lo-emos na
companhia de São José. Quem mais do que ele, especialista no imprevisível e no
inesperado, pode abrir ao nosso horizonte uma réstia de esperança?
O momento preciso na sua história em que convido cada leitor a entrar é a vida no Egito.
Nascido Jesus, José num sonho receberá a ordem para salvar a vida da criança e de sua
mãe, indo para a terra do Egito. Não sabemos exatamente por quanto tempo estiveram
naquela terra, mas seríamos levados a pensar che, após os inesperados e imprevistos, José
terá começado a experimentar, momentos de estabilidade, paz e tranquilidade. Sabemos
muito bem, no entanto, que as coisas não foram bem assim. "Quando Herodes morreu,
um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José no Egito e disse-lhe: 'Levanta-te, toma
contigo a criança e sua mãe, volta para a terra de Israel, porque aqueles que ameaçavam a
vida do menino já morreram’. E levantou-se, levou consigo o menino e sua mãe, e foi para
a terra de Israel" (Mt 2,19-21). A passagem continua então com uma anotação tão clara
que dissipa mais uma vez qualquer possível dúvida ou má interpretação sobre o
protagonismo ativo de José nesta obra divina: "Tendo sabido, porém, que Arquelau era rei
da Judeia no lugar do seu pai Herodes, teve medo de lá ir. Depois, avisado num sonho,
retirou-se para as regiões da Galileia" (Mt 2, 22-23).
Mais uma vez podemos dizer muito pouco sobre os acontecimentos destas notas
evangélicas; mas sabemos que o que pode parecer silêncio, vazio, ausência, na vida de
José, esconde em vez os valores mais profundos do coração humano. De fato, sempre que
nos deparamos com a sua pessoa, o convite é para reconhecer que ele é um guardião
silencioso de tesouros a defender. Para guardar a obra de Deus, para que nenhuma coisa
humana manche a sua santidade.
O imperativo tornar-se-á claro para o crente, agora mais do que nunca: ouvir.
Pôr-se na escuta da Palavra de Deus a fim de ser iluminados por ela. É a própria Palavra, a
Carta aos Hebreus (4,12) no-lo diz, que: "é viva e eficaz, mais afiada que qualquer outra
espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do espírito, das articulações e
medula, e examina os sentimentos e pensamentos do coração. É Deus quem primeiro fala
ao homem e que por isso pede para ser ouvido, bem acolhido. Pode acontecer esquecermos
que a oração cristã é, antes de mais nada, uma escuta. Preferindo dizer a Deus: "Ouvi,
Senhor, porque o vosso servo fala convosco", em vez de dizer: "Falai, Senhor, que o vosso
servo escuta" (1Sam 3,9).
DO MEDO À CORAGEM
José é o homem da escuta, ou melhor: o sábio, aquele que reconhece em Deus a certeza de
um aliado de confiança. Em que pode José de Nazaré iluminar-nos neste tempo de
pandemia? O documento do Concílio Gaudium et Spes neste sentido parece abrir o
caminho para a nossa reflexão, como se fosse um preâmbulo das cenas evangélicas acima
mencionadas. É assim que começa o proemio da Constituição (Nº 1): “As alegrias e as
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