Page 27 - Reflexão sobre São José
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ter parecido uma trégua para José após a sua fuga para o Egito (Mt 2,13-18) acabará de
fato por ser um momento de espera para que a história prossiga de acordo com o coração
e a sabedoria divina.
A chamada de José para guardar e salvar as vidas tanto de Jesus como de Maria significava
entrar num testamento, num plano preciso, o de Deus. A estabilidade e serenidade
certamente alcançadas por este pai e marido serão mais uma vez postas em causa.
Pontualmente, o Anjo voltará para reorganizar os planos, provavelmente os planos de
José para o seu futuro. No fundo, aquele homem não está em busca de serenidade, da
estabilidade de uma casa, da segurança de um emprego, da felicidade da família. Mais uma
vez para José a estrada mostrará dois caminhos: entrar ou não entrar na obra de Deus. O
que fará José?
Muito pouco do que planejamos na vida segue uma realização clara, certa ou completa. Há
sempre algo que compromete a realização de planos pessoais; encontrar-se, na maioria
das vezes, na encruzilhada da escolha de entrar ou não no que parece inesperado e
diferente. Entrar ou não entrar nas coisas como Deus quer e não como nós as veríamos.
Isto, sim, que é um desafio! E nos altos e baixos de seguir em frente não nos deve
surpreender que surjam crises. O que fortalece a maturidade e realiza a estatura de um
homem sábio na vida é a capacidade de compreender como lidar com estas crises.
Toda a história de José mostra o inesperado, o diferente, o oposto do que foi imaginado e
até o paradoxo do que nunca se teria sonhado. Realista é o momento em que ele será
chamado a ter consigo Maria grávida de Jesus; e que não quisesse denunciá-la, declara
toda a vontade ativa deste homem. José está a receber um papel, para ser pai e marido; por
conseguinte, é chamado a decidir se recusa ou se se dispõe ao sim. Cada vez mais ele
compreenderá que o seu sim será moldado pela poderosa mão de Deus e que nada lhe
estava a acontecer por acaso.
O momento de crise de José, constante nos quatro sonhos, era para ser continuamente
confrontado com uma decisão a ser tomada; chamado a reconhecer se os acontecimentos
eram simplesmente fatos humanos, ou situações em que Deus podia operar. O mistério
do imprevisível e do inesperado ou gera rebeldia, rejeição, egoísmo; ou torna-se a
sussurrada escuta de uma voz que chama à confiança, ao reconhecimento de uma
vontade que acompanha e salva.
Acreditar na possibilidade de que ainda hoje a história, as nossas histórias, mesmo com
todas as mudanças catastróficas que temos diante dos nossos olhos, estão grávidas de
Jesus Cristo: este é o verdadeiro desafio do homem na sua relação com Deus.
José aceitará mais uma vez a ordem do Anjo de deixar tudo, a terra confortável e segura
do Egito, os seus hábitos, todo o seu mundo construído, para recomeçar e reconstruir
tudo. Algo humanamente não simples; a contínua preocupação de reconhecer nos
sussurros do Anjo a obra de Deus ou não, e por esta razão ligar-se a ela. José é o homem da
vida interior. Ele é o homem da intimidade. Sonhos, pensamentos, sussurros, ações, todos
Reflexões sobre s. josé 5