Page 49 - Reflexão sobre São José
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podemos sentir a mesma reacção que ele, um medo porque talvez não sejamos dignos, um medo
          porque talvez não sejamos capazes, um medo porque talvez haja alguém melhor que nós que
          deve tomar nosso lugar. Na paz e na tranquilidade, porém, imitamos São José, ouvindo a voz do
          Senhor  que  nos  é  revelada,  optando  por  não  temer,  aproximando-nos  de  Jesus  e  de  Maria  e
          deixando que Deus trabalhe em nossa pequenez.

          Intimidade autêntica.

          Há alguns anos, nossa Província dos Estados Unidos acolheu um jovem como aspirante. Teve
          muitas  virtudes  e  qualidades  que  pareciam  indicar  uma  vocação  religiosa,  e  avançou com o
          aspirantado, o postulado, o noviciado e os votos temporários. Trabalhei com ele pessoalmente
          nas várias etapas da sua formação e posso testemunhar a sua grande abertura e entusiasmo na
          procura da vontade de Deus, mas também veio para a Congregação de uma situação familiar que
          infelizmente  é  cada vez  mais  frequente:  os  seus  pais  eram  divorciados.  e  ambos se  casaram
          novamente; seus dois padrastos tiveram vários filhos de outros casamentos. Uma vez ele me
          disse, brincando, que nem mesmo Nossa Senhora, que desfaz os nós, poderia desfazer sua árvore
          genealógica.  Por  trás  do  humor,  porém,  havia  uma  verdade  impossível  de  ignorar:  sua  vida
          familiar o influenciou profundamente, e nem sempre para melhor. Por fim, esse jovem deixou
          a  formação,  em  parte  porque  seu  ambiente  familiar  tornava  difícil  para  ele  compreender
          plenamente o espírito de família e o compromisso em nossa Congregação.

          Não há dúvida de que existe uma crise de relacionamento nas famílias modernas, uma crise tão
          insidiosa quanto dolorosa. A crise da família levou os jovens a lutar para confiar naqueles que
          são os únicos responsáveis por seus cuidados. Essa falta de confiança se espalha para outros
          relacionamentos em suas vidas, incluindo seu relacionamento com Deus, e nossos jovens, por
          sua vez, têm ainda mais dificuldade em construir relacionamentos saudáveis e compreender o
          compromisso. Como resultado, buscam intimidade e relacionamento de formas destrutivas e
          insatisfatórias, por meio de desvios e pecados sexuais, alienação e isolamento, ou mesmo por
          miseráveis substitutos tecnológicos.

          No  entanto,  não  são  apenas  os  jovens  que  enfrentam  essas  ameaças  e  tentações.  Em  nossa
          própria  vida  de  consagração  religiosa,  até  mesmo  confrades  com  muitos  anos  de  vida
          consagrada  fiel  podem  se  encontrar  buscando  a  intimidade  de  maneiras  erradas  e  até
          prejudiciais. A laceração do mundo não poupou a vida religiosa e seus membros.

          Nós, Oblatos de São José, porém, temos o exemplo e o antídoto perfeito para superar as aflições
          do coração que podem nos atacar. Os Santos Esposos, Maria e José, encontraram em seu amor
          casto um pelo outro a intimidade mais gratificante e autêntica que as criaturas da terra podem
          experimentar. Como escreveu o Papa São João Paulo II sobre São José, o amor entre Maria e José
          "foi  este  amor  maior  do  que  um"  homem  justo  "poderia  esperar  na  medida  de  seu  coração
          humano" (Redemptoris Custos 19). Na verdade, na sua vocação de esposo, São José recorda-nos
          que a verdadeira intimidade e o amor autêntico se encontram precisamente em conformidade
          com a vontade de Deus pela castidade.


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