Page 125 - Reflexão sobre São José
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Na  realidade,  ao  lado  de  José,  Jesus  não  só  aprendeu  o  ofício  do  seu  pai,  mas  também
          partilhou  e  assimilou  aquela  dimensão  humana  e  concreta  que  caracteriza  o  mundo  do
          trabalho:  “o  estado  civil,  a  categoria  social,  a  condição  econômica,  a  experiência
          profissional, o ambiente familiar, a educação humana" (Paulo VI, Alocução de 19 de Março
          de 1964). A participação de Jesus no trabalho de José, portanto, foi muito além de qualquer
          atividade  ocasionalmente  realizada  ao  lado  de  outra.  É  uma  submissão  cujo  sentido
          qualifica e define toda a vida de Jesus.

          Quando Lucas, depois do episódio da permanência de Jesus no templo, afirma que "partiu
          com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso" (2,51), com esta expressão não pretende
          simplesmente  concluir  uma  fase  da  vida  terrena  de  Jesus,  preparatória  à  do  ministério
          público.

          Uma  exegese  feita  "em  computador",  hoje  cada  vez  mais  na  moda,  em  busca  de  quantas
          vezes  recorre  usar  uma  palavra  no  texto  sagrado  para  deduzir  daí  a  sua  importância,
          poderia subestimar,  com base na freqüência, o particípio médio hypotassómenos, usado
          por Lucas para definir toda a vida oculta de Jesus. O Catecismo da Igreja Católica interpreta
          o texto de forma magistral: "Na submissão de Jesus à sua mãe e ao seu pai legal, realiza-se a
          perfeita  observância  do  quarto  mandamento.  Essa  submissão  é  a  imagem  no  tempo  da
          obediência filial ao seu Pai celeste. A submissão diária de Jesus a José e Maria anunciou e
          antecipou  a  submissão  da  Quinta-Feira  Santa:  "Não  ...  a  minha  vontade..."  (Lc  22,42).  A
          obediência de Cristo no cotidiano da vida oculta já ia inaugurando a obra de restaurar o que
          a desobediência de Adão havia destruído" (n. 532).

          A Exortação Apostólica Redemptoris custos segue a mesma linha de explicação, desenvolvendo o
          tema da "submissão" em nível histórico. "Esta ‘submissão’, ou seja, a obediência de Jesus na casa
          de Nazaré, é entendida também como participação no trabalho de José. Aquele que era designado
          como o ‘filho do carpinteiro’ tinha aprendido o ofício de seu putativo ‘pai’ putativo. Se a Família
          de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas,
          também é-o analogamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro. Na nossa época,
          a Igreja pôs em realce isto mesmo, também com a memória litúrgica de São José Operário, fixada
          em 1° de Maio" (n. 22). Assim, para esta "submissão", necessária na economia da salvação, a
          presença de José ao lado de Jesus não é somente decorativa.

          Em relação à redenção do trabalho, José foi minister salutis, isto é, ministro da salvação a
          duplo título. O primeiro é mais conhecido. Trata-se do trabalho, considerado por João Paulo
          II  como  expressão  de  amor,  o  trabalho  "através  da  qual  José  procurou  assegurar  a
          manutenção da Família". Este título já merece para ele, da parte da Igreja, a memória no
          sacrifício  eucarístico,  juntamente  com  a  da  sempre  gloriosa  Virgem  Maria,  porque  José
          "sustentou  Aquele  que  os  fiéis  deviam  comer  como  Pão  da  vida  eterna"  (Redemptoris
          custos, n, 16; cf. n. 6).

          O segundo título, mais estreitamente ligado ao trabalho "assumido" por Jesus, consiste no
          fato  de  que  "Graças  ao  seu  banco  de  trabalho,  junto  do  qual  exercitava  o  própiro  ofício
          juntamente  com  Jesus,  José  aproximou  o  trabalho  humano  do  mistério  da  Redenção"
          (Redemptoris custos, n. 22). Nesta afirmação está claro que, com base no princípio "aquilo
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