Page 96 - Reflexão sobre São José
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naquele casamento ideal, os casais renovam os próprios votos matrimoniais.
     E dentro do nosso Instituto? Ao longo de sua história quase sesquicentenária, esta festa outrora
     chamada  "do  matrimônio  de  Maria  Santíssima"  era  destinada  a  uma  reflexão  sobre  a  vida
     comunitária. E tinham visto bem as coisas, os nossos antepassados na vida josefina, dado que,
     se desconhecemos completamente uma crônica das ações de José e Maria durante o tempo em
     que  eles  eram  namorados,  noivos  e  finalmente  casados,  uma  vez  que  o  Evangelho  não
     menciona, podemos, no entanto, refletir com fecundidade sobre como eles se comportaram um
     com o outro e ambos em relação a Deus.

     Um  testemunho  do  Pe.  Cortona  diz-nos  que  nosso  Santo  Fundador  gostava  de  entreter  os
     primeiros Oblatos com considerações sobre a vida interior de São José, falando-lhes das muitas
     coisas  belas  que  tinha  aprendido  nas  obras  de  São  Francisco  de  Sales,  em  outros  autores
     comprovados, e a partir das suas reflexões pessoais.

     Tudo nos leva a pensar que estes ensinamentos de nosso Pai, por outro lado jamais escritos,
     foram transmitidos na vida da Congregação, sendo lembrados nas festas de São José. E os que
     diziam respeito à vida fraterna eram retomados precisamente na Festa dos Santos Esposos.

     É preciso lembrar que a noção de vida fraterna em comunidade ainda não se desenvolvera na
     teologia da vida religiosa, e os princípios da vida comunitária iam pouco além das normas de
     convivência,  vividas  como  exercício  de  virtude  (prudência,  abnegação,  obediência,
     especialmente caridade). Sobre os deveres para com os companheiros, o Manuale di Pietà per i
     Carissimi dizia: "Evita o porte orgulhoso, as piadas mordazes, os apelidos, as palavras pungentes,
     o desrespeito, a murmuração. Deves evitar também qualquer briga ou discussão exagerada, e
     qualquer forma de altercação...". Compreende-se então a conhecida frase de São João Berchmans,
     o santo padroeiro de nossos noviços: "a vida comunitária é para mim a penitência mais difícil".

     O peso da ordem hierárquica, que dava aos superiores a autoridade de um abade nos campos da
     obediência, era equilibrado pelo assim chamado “espírito de família”, tema que a seu tempo
     merecerá uma reflexão à parte. Por agora baste recordar a missão dos superiores daquela época
     como o verdadeiro exercício de uma paternidade que era tanto mais autêntica quanto mais se
     estendia  aos  minimos  detalhes  da  vida  dos  religiosos  a  eles  confiados.  E,  em  seu  lugar,  os
     religiosos eram tanto mais perfeitos quanto mais dóceis se deixavam guiar em tudo e para tudo
     pela  vontade  de  seus  superiores,  já  que  essa  representava  a  vontade  de  Deus  em  todas  as
     circunstâncias. Era inculcada a oboedientia ac cadaver, devida ao superior que dizia comandar
     auctoritas qua fungor. As decisões vinham sempre de cima, sem a participação da base. Sobre
     isso, a frase do Pe. Cortona sobre a obediência é ilustrativa: "nada pedir, nada recusar".

     Depois,  havia  também  as  relações  entre  os  membros  das  comunidades,  reguladas  como  já
     dissemos pela etiqueta, e não raras vezes deram origem a verdadeiras amizades, sob um forte
     cunho  espiritual,  esquivando-se  das  vituperadas  “amizades  particulares”,  consideradas  um
     desvio perigoso. Podemos dizer que, via de regra, os membros de uma comunidade chegavam a
     bem-querer-se e, na ocorrência dos inevitáveis problemas de ciúmes, inveja, aborrecimento,
     etc., recorriam ao superior.

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