Page 92 - Reflexão sobre São José
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"homem de fé, temente a Deus, responsável, honesto, sincero, digno, nobre". O conceito bíblico
de justiça é determinado pelo relacionamento com Deus. No Antigo e no Novo Testamentos, são
considerados justos aqueles que fazem a vontade divina com temor a Deus, em amor e respeito
pelo próximo. "O justo viverá pela sua fé", diz o profeta Habacuque (2,4), depois de afirmar que
os ímpios morrerão sem escapar. O homem de fé espera de Deus ajuda e salvação (Sl 34,9-10),
porque sabe que o Senhor é justo e misericordioso (Sl 4,2-4).
O ideal do "israelita justo" é apresentado especialmente nos Salmos, em Jó e no Livro dos
Provérbios. O povo eleito exerce a justiça quando não negligencia seus deveres para com Deus (Is
58,2), e quando o indivíduo leva uma vida perfeita em todos os aspectos (Sl 4,2-5; Is 56,1-3). Ao
lado da fidelidade religiosa, da honestidade civil e da lealdade geral, o israelita justo é assíduo na
prática da fé, respeita a Lei em todos os seus preceitos, e permanece reto na administração da
justiça. No Novo Testamento, o termo indica a retidão ética e religiosa do homem, no sentido de
disponibilidade em fazer da vontade de Deus a sua própria vontade. Em Mt 21,32 e 2Pd 2,21 o
caminho da justiça é a vida vivida segundo os preceitos de Deus, e justo é, portanto, aquele que
cumpre os mandamentos. O adjetivo "justo" refere-se naturalmente a Jesus, mas não só a ele (Mt
13,17; 23,25.29; Lc 1,6; 2,25; 2Pd 2,7). O sentido pleno deste termo torna-se claro quando é
unido a outros adjetivos de ordem ético-religiosa, "santO" (At 3,14), "temente a Deus". E assim
foi São José durante toda a sua vida. A inspiração constante para a sua ação foi a vontade de Deus
em todas as circunstâncias. E as vicissitudes de sua vida lhe apresentaram momentos
particularmente difíceis (mudança de vocação, aceitação da paternidade, longa viagem para o
recensiamento, ameaça de morte ao Menino, fuga para o Egito, retorno a Nazaré, perda do filho,
possível doença com preocupação pelo futuro de Maria e de Jesus, e a morte). Em tudo, José viu
a vontade de Deus. Foi um homem fiel e justo até o fim.
Refletir: A fé é para mim adesão a um conjunto de verdades estáticas, ou é muito mais seguir a pessoa
de Jesus e crescer em sua amizade? (Os Apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta nossa fé.) Sou
temente a Deus, honesto, sincero, responsável? Sou fiel às práticas de piedade, mesmo quando não as
posso fazer com a comunidade?
2 - Sendo um homem "justo" - porque disposto a fazer a vontade divina com alegria e fidelidade
- José entrega sua vida a um projeto que o transcende, com a aceitação da ordem de manter Maria
com ele. Esta é a justiça de José: não se trata simplesmente de uma observância escrupulosa dos
mandamentos, mas de uma justiça que é uma busca integral da vontade divina, acolhida com
plena obediência. Por causa dessa obediência, começou uma nova vida para José, com
perspectivas antes inimagináveis. Ele descobre lentamente um sentido mais profundo da
vocação de marido e pai. Assim permaneceu ao lado de Maria, como esposo fiel, e daquele
Menino como figura paterna e responsável. A assunção desta responsabilidade exprime-se
primeiro pela decisão de manter consigo Maria, sua esposa, e depois pela imposição do nome ao
Filho recém-nascido de Maria (Mt 1, 21). O ato de dar o nome significa que dá àquele Menino a
identidade social de seu pai: é precisamente por isso que Jesus pôde ser reconhecido como
"descendente de Davi", exigência essencial da messianidade. Este bebê é, portanto, entregue à
responsabilidade e ao amor de José e, através dele, Deus dá à história humana o maior penhor
da sua fidelidade, aquele que é o "Emanuel", o "Deus conosco", profetizado por Isaías.
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