Page 73 - Reflexão sobre São José
P. 73

6. Suportar pacientemente as pessoas molestas
                 7. Rezar pelos vivos e pelos defuntos

          Nem todas essas são adequadas para a relação entre José e Jesus, por exemplo, estão totalmente
          fora de lugar a  obra de número 3: admoestar os pecadores, a menos que não queremos pensar
          em José no ato de repreender alguém que, como Herodes, quisesse fazer mal a Jesus ... A quinta
          obra, perdoar as ofensas e a sexta, suportar pacientemente uma pessoa molesta, não cabem em
          relação a Jesus no seio da Sagrada Família.

          Mas todas as outras obram cabem e como! Quantas perguntas tem um filho sobre tantas coisas.
          Quão numerosas as questões, e o desejo de conhecer as coisas! E porque o senso de realidade ainda
          é fraco, as emoções são muito fortes, e então os pais respondem aos seus filhos, ensinam-nos,
          consolam-nos quando eles estão aflitos e confortam-nos de todas as formas. É claro que Jesus,
          sendo Deus, não precisaria de nenhuma dessas coisas, mas como ele escolheu nascer e crescer e
          como todas as crianças, no corpo e psique, também escolheu experimentar todo o percurso da
          natureza humana: a descoberta, a aprendizagem, as provas, a possibilidade de erro e até mesmo
          alguma ligeira correção. Da maneira como Jesus se nos apresenta adulto, sabemos que Maria e José
          cumpriram com perfeição a sua missão de pais. Eles foram capazes de responder à misericórdia de
          Deus com muitos outros atos de misericórdia para com o Filho que lhes fora confiado.

          São  João  Paulo  II  disse:  "Deus  revela  também  de  modo  particular  a  sua  misericórdia,
          quando solicita o homem, por assim dizer, a exercitar a «misericórdia» para com o seu própio Filho,
          para com o Crucificado. Cristo, precisamente como Crucificado, é o Verbo que não passa, é o que
          está à porta e bate ao coração de cada homem, sem coarctar a sua liberdade, mas procurando
          fazer irromper dessa mesma liberdade o amor; amor que é não apenas acto de solidariedade para
          com o Filho do homem que sofre, mas também, em certo modo, uma forma de «misericórdia»,
          manifestada por cada um de nós para com o Filho do Eterno Pai. (8 DM). Cada cristão é, portanto,
          chamado a exercer as obras de misericórdia e a razão é porque a pessoa que está enfraquecida
          ou necessitada carrega uma especial presença de Cristo: "foi a mim que o fizestes" (Mt 25,40) e,
          portanto,  quem  ajuda  um  irmão  que  se  encontra  nessas  condições,  receberá  a  grande
          recompensa.  Sobre  isso  não  há  que  duvidar,  mas  a  distância  estabelecida  entre  nós,  meros
          mortais e São José é precisamente porque ele fez as mesmas obras, mas diretamente para Jesus.
          A nós, Cristo poderá um dia dizer: "Sempre que fizestes isso a um destes pequeninos, foi a mim
          que o fizestes", a São José só poderá dizer: "foi a mim que o fizeste", talvez completando: "fizeste
          isso por mim quando eu era pequeno e estava enfraquecido e precisava de tudo".

          Nossa reflexão certamente não é nova. Oitenta anos atras, Pio XI, num famoso discurso de 19 de
          março de 1936 recordava a singularidade de São José no Juízo final: "Com Maria ... a distinção de
          São José naquele último dia, será não dizer nada, não respondar, não poder replicar, questionando,
          a  observação  do  Supremo  divino  Juiz.  Pois  quando  o  Senhor  dirá  a  explicação  da  grande
          recompensa eterna dos justos, único entre eles, São José não responderá com uma expressão de
          admiração. Foi muito bem pensado e dito que, em meio a toda aquela surpresa geral, um só não vai
          ficar nem um pouco adimirado: São José, que estará na mais pacífica  luz do vero, da verdade e
          vivida e esperimentada. São José às afirmações do filho de Deus, quando o Senhor lembrará que lhe
          dera de comer quando tinha fome, lhe dera de beber quando estava com sede, lhe cobrira quando
          estava nu, vai dizer: é verdade, ó Senhor, é tudo verdade. Magnífica consideração, esta, que nos


                                                                       Reflexões sobre s. josé          51
   68   69   70   71   72   73   74   75   76   77   78