Page 76 - Reflexão sobre São José
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natureza de proximidade da Revelação bíblica e da Encarnação. Dentre as expressões mais
     usuais  relacionadas  a  São  José  está  a  Liturgia  de  sua  Solenidade  e  a  adaptação,  um  tanto
     ideológica,  da  memória  facultativa  de  São  José  Operário.  Tentaremos  analisar  algo  a
     respeito  destes  dois  momentos  litúrgicos  e  evidenciar  aspectos  teológicos  e  éticos
     relevantes.

     O dia 19 de março, dia de São José, ocorre, muitas vezes, dentro da Quaresma, o que pode,
     em alguns anos, dificultar sua celebração e desviar o seu significado. Segundo L. Fréchet,
     estudioso do tema, “A Festade de São José é como a agulha oscilante que indica a marcha
     progressiva de seu culto.” Dito isso, supõe-se que conforme a compreensão de sua pessoa e
     a proposição de seu significado, será a expressão de seu culto.

     A mais antiga menção de um culto a São José se encontra em calendários da Igreja copta,
     datados dos séculos VIII e IX, e assinala o dia 20 de julho como data de sua comemoração.
     Há indicações de um tipo de celebração sobre São José em martirológios dos séculos IX e X,
     contudo, sem indicações ou detalhes. Sabe-se que os cruzados, no século XII, construíram
     uma  igreja  dedicada  a  ele  em  Nazaré,  provavelmente  as  fundações  da  Igreja  atual,  e
     valorizaram este dia 20 de julho. Já os franciscanos difundiram sua devoção, comemorando-
     o não o dia 20 de julho, mas sim no dia 19 de março e levando-o a ser mais conhecido. São
     ainda esparsas as notícias a respeito da data da comemoração.

     Se o culto a São José é algo que podemos observar a partir de algumas referências da segunda
     parte do primeiro milênio, o destaque dado a ele é mais antigo. Tarcisio Stramare compilou
     dezenas de referências a São José entre os Padres da Igreja, até São Bernardo, entre os séculos
     XI e XII. De fato, falam de São José, entre os Santos Padres: São João Crisóstomo, no início do
     século V; São Jerônimo, em um trecho de sua obra sobre a vir-gindade perpétua da Virgem
     Maria,  no  século  VI;  Santo  Agostinho,  também  no  século  VI,  quando  aborda  o  tema  do
     matrimônio de José e Maria e do significado da paternidade de José; Santo Efrém, o Sírio, etc.
     O pesquisador Vitaliano Bruni, afirma de que a Liturgia suscita a devoção e, a partir deste
     movimento, surgem expressões diversas de aproximação com o objeto que é interessante.
     Este autor está indicando que a devoção a São José, que se desenvolverá na segunda metade
     do  primeiro  milênio  nas  Igrejas  Ocidental  e  Oriental,  foi  precedida  pela  sua  presença  na
     Liturgia das mesmas Igrejas. Não sei até que ponto esta afirmação, da derivação da devoção
     a partir da Liturgia, pode proceder.

     De  qualquer  forma,  ainda  que  tenhamos  estas  diversas  indicações  patrísticas,  as  expressões
     litúrgicas em torno à figura de São José na antiguidade são escassas. O que existe são os textos
     apócrifos, entre os quais pode ser destacado um que chama a atenção pela sua extensão. Trata-
     se da História de José, o Carpinteiro. Neste texto, do qual encontramos algumas variantes, aparece
     a afirmação:

     “Então, Abbadão entrou, tomou a alma de meu pai José e separou-a do corpo no mesmo instante
     em que o sol fazia sua aparição no horizonte, no da 26 do mês de Epep, em paz. A vida de meu
     pai compreendeu cento e onze anos.”

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