Page 77 - Reflexão sobre São José
P. 77
A referência ao dia 26 do mês egípcio de Epep foi que gerou a celebração de São José no dia 20 de
julho, data equivalente no calendário juliano. Não surpreende que esta data fosse comemorada
pela Igreja Copta, de origem egípcia.
O destaque dado a São José no Ocidente deve ter sido alimentado, ainda que indiretamente, pelo
Oriente, por via da liturgia Galicana. No século VIII, como indicado atrás, havia já indicações de
devoção a São José. V. Bruni indica um manuscrito em Zurique no qual se vê a comemoração de
São José no dia 20 de março. Os cruzados tiveram forte influência na migração da devoção a São
José entre Oriente e Ocidente, criando, além da Igreja de São José em Nazaré, outra a ele dedicada
em Bolonha, em 1129 e uma na Inglaterra, em Alcester, em 1140.
Já com relação ao dia 19 de março, não há indicações seguras e motivos claros da escolha deste
dia como data da festa ou celebração, mas se tem notícia de uma festa de São José no século XV,
promovida por Sixto IV, Papa entre 1471 e 1484, proposta a toda a Igreja neste dia. Neste ponto
é possível observar com mais segurança o desenvolvimento do culto de São José. Antes esta não
era uma festa para toda a Igreja, mas apenas para Igrejas de alguma forma ligadas à presença e
devoção de São José. Gregório XV, em 1621, valorizou mais a festa declarando aquele um dia
santo ou, como se dizia, dia santo de guarda.
Foi no século XIX que a devoção a São José e sua difusão teve mais desenvolvimento. O Papa Pio
IX, teve forte influência sobre isso sendo uma das mais eloquentes expressões deste
desenvolvimento. Em 1847 o jovem Papa, há apenas um ano reinando, duplicou a festa de São
José criando a “Festa do Patrocínio de São José”, que de resto era já comemorada, de modo
privado, desde 1680, pelos Carmelitas na Itália e na França. Esta festa do Patrocínio de São José
era comemorada no terceiro Domingo depois da Páscoa. O Papa Pio X, já no século XX,
transformou esta festa na categoria de primeira classe, dando-lhe uma oitava e fixando-a na
terceira quarta-feira depois da Páscoa. Voltando ao século XIX, Pio IX, durante o Concílio
Vaticano I, não se sabe bem se por reconhecimento teológico ou por uma espécie de “pragmática
histórica”, declarou São José Patrono da Igreja.
No século XX, na edição de 1920 do Missal romano, sob o pontificado de Bento XV, encontra-se
um Prefácio de São José. Este Prefácio continuou, de modo substancial, no Missal de Paulo VI, de
1970.
Em 1955 o Papa Pio XII introduziu no calendário a “Solenidade de São José Operário, Esposo da
Bem-aventurada Virgem Maria, Confessor e Patrono dos Operários”. O pomposo título da
comemoração demonstrava a intenção de destacar São José na intertextualidade do mundo do
trabalho. Esta Solenidade passou a ser observada em 1956, com a abolição da antiga Festa do
Patrocínio de São José. A Solenidade de São José Operário, Esposo da Bem-aventurada Virgem
Maria, Confessor e Patrono dos Operários foi, por sua vez, suprimida no grau de Solenidade na
reforma do Ano Litúrgico e do calendário empreendida após o Concílio Vaticano II, e tornou-se,
de modo bem mais modesto, uma memória facultativa. É a memória facultativa de “São José
Operário”. O motivo desta mudança, como comenta A. Adam, é a intenção do Consilium,
encarregado da reforma do Ano Litúrgico e do calendário, em diminuir, o mais possível, as
festas e comemorações de índole ideológica.
Reflexões sobre s. josé 55