Page 149 - Reflexão sobre São José
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Padre Cortona nas Breves Memórias punha claramente em foco o primado de Cristo na imitação
          de  São  José,  escrevendo:  “O  ponto  da  vida  de  São  José  sobre  o  qual  o  Pai  Fundador  mais
          entretinha  seus  amados  filhos  era  a  vida  escondida  daquele  grande  Patriarca  com  o  seu
          amatíssimo  Jesus.  Eis  toda  a  sua  grandeza  e  todos  os  seus méritos…  Os  Oblatos  de  São  José
          deviam esforçar-se para imitar o mais próximo que pudessem a vita escondida de São José com
          Jesus.  ‘A  vossa  vida  está  escondida  com  Cristo  em  Deus’”.  Também  o  Regulamento  de  1892
          indica a mesma finalidade à Congregazione: “imitar São José que foi o primeiro modelo da vita
          religiosa, pois ele teve continuamente sob os olhos aquele Exemplar Divino, che o Pai Eterno por
          sua misericórdia quis enviar ao mundo, para que ensinasse o caminho do Céu”.

          2. Nas palavras acima o nosso carisma encontra o seu fondamento teológico e escriturístico,
          quando  sabemos olhar  para  Jesus com os  olhos  de  São  José, que  se  torna  para  nós o  grande
          modelo na realização da “sequela Christi”. São José Marello apresenta São José como “exemplar
          no nosso ministério que, como o seu, é ministério de relações íntimas com o Verbo Divino” (L
          37).  Nasce  daqui  o  discurso  programático  da  nossa  espiritualidade,  que  devemos  saber
          apresentar  de  modo  justo  e  bem  articulado:  em  primeiro  lugar  Jesus,  que  é  o  fim  da  vida
          consagrada; depois a figura de São José, que nos guia para irmos a Jesus e o servirmos. Essa visão
          clara do nosso modo de ser Oblatos de São José, ajuda-nos a compreender os passos seguintes,
          que são as características da nossa espiritualidade: viver na “Casa de São José, ... com o propósito
          de  aí  permanecermos  escondida  e  silenciosamente  operosos,  na  imitação  daquele  grande
          Modelo de vida pobre e obscura” (L 108). A série de qualidades como: o escondimento, o silêncio,
          a operosidade, a pobreza, o abandono à vontade de Deus, não mais nos causam medo, porque
          recopiam aquilo que São José fazia na casa de Nazaré, no serviço a Jesus e a Maria.

          3. Costumamos condensar a espiritualidade josefina com as palava que o nosso Fundador repetia
          amiúde:  “Vida  escondida  com  Cristo  em  Deus,  à  imitação  de  São  José”;  e  ainda:  “Cuidar  dos
          interesses  de  Jesus,  à  imitação  de  São  José”.    Esses  dois  pensamentos  resumem  bem  seja  a
          espiritualidade, seja o carisma apostólico, se os fizermos penetrar no coração e na vida. Procuremos
          colher  o  seu  sentido  profundo,  partindo  do  significado  que  lhes  dá  São  Paulo.  Na  carta  aos
          Colossenses  lemos:  “Se  ressuscitastes  com  Cristo,  buscai  as  coisas  do  alto,  onde  Cristo  está
          entronizado à direita de Deus; cuidai das coisas do alto, não do que é da terra. Pois morrestes, e a
          vossa vida está esondida com Cristo em Deus.” (3,1-3). Estimo no coração do mistério pascal, que é
          misterio de morte e de ressurreição, mistério fundamental de toda a vida cristã, suficiente em si
          para  dar  um  tom  de  intimidade  à  nossa  vida  spiritual  e  de  total  adesão  a  Cristo  crucificado  e
          ressuscitado. É um discurso dirigido a todos os cristãos, mas para nós trata-se de apresntá-lo em
          chave josefina, como o apresentava o Fundador, e para isso precisamos olhar para vida de São José,
          que  foi  uma  vida  de  dores  e  alegrias,  no  pleno  e  contínuo  cumprimento  da  vontade  de  Deus.
          Evitaremos, assim, que a vida escondida seja considerada como algo de obscuro e de negativo, como
          por vezes acontece, ao passo que se trata de uma espiritualidade pascal de altíssimo valor para a
          vida cristã, que nós lemos à luz de São José.

          4. A exortação a “cuidar dos interesses de Jesus”, tão cara a São José Marello, provém da Carta
          aos Filipenses, na qual São Paulo escreve: “Espero, no Senhor Jesus, que eu em breve vos possa
          enviar Timóteo, para que eu também me reconforte com as notícias que tiver de vós. Não tenho
          nenhum  outro  com  iguais  disposições  a  vosso  respeito  e  que  tão  sinceramente  como  ele  se
          interesse por vós. Os outros buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo” (2,19-
          21). Quais eram os sentimentos de Paulo, senão os de Cristo e de Cristo crucificado? E quais são
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