Page 8 - Reflexão sobre São José
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Ou ainda: vale a pena propor, em nosso tempo, o santo da humildade e do silêncio, como modelo a ser
imitado? O que a história dele ainda pode ensinar aos homens do século 21?
Respondo a essas objeções, limitando-me a constatar que é ele, São José, que sempre nos traz de volta ao
centro de nossa vocação cristã e religiosa; que nos ajuda a redescobrir os traços da identidade do
verdadeiro Oblato; e que propõe à comunidade cristã o seu estilo sempre presente e inconfundível de
fidelidade no serviço. Querendo indicar uma palavra que sozinha resuma a missão e a herança espiritual
de São
José, basta dizer "Jesus", o nome que nosso Santo foi chamado a pronunciar e a impor no rito da
circuncisão (Mt 2, 25); aquele nome do qual São Paulo diz que "está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus
Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai "(Fl 2,10).
São José vive profundamente a união com Jesus, contempla-o no mistério da Encarnação e nos mistérios
da vida oculta, e, assim, constantemente nos recorda que a vocação à vida consagrada e todas as outras
vocações cristãs, consistem sobretudo na relação pessoal com Jesus Cristo. Desta forma, insta-nos a
todos para "re-centralizar" a nossa vida em Jesus, que é o único necessário, a partir do qual tudo o resto
vem e assume significado e valor. De fato, na escola de São José aprendemos a acolher a Palavra como
razão de nossa vida e de nosso apostolado; aprendemos a crescer em fraternidade; aprendemos a
fortaleza, condição indispensável para enfrentar os desafios da vida cotidiana do apostolado.
Proponho que, no decorrer deste ano, nos inspirem e acompanhem estas palavras do Evangelho segundo
Mateus, para serem aprofundadas na reflexão pessoal e comunitária:
Levanta-te ...
Ele se levantou durante a noite, tomou consigo o menino e sua mãe (Mt 2,13.14).
Levanta-te ... Ele se levantou. O verbo "levantar-se" lembra movimento, vincula-se a uma projeção
ascendente e é recorrente na Sagrada Escritura, em diferentes contextos, sempre com sentido positivo:
levantar-se, levantar-se depois da queda, levantar os olhos em oração... É um chamado a deixar a postura
de sentado ou deitado, para pôr-se em movimento, porque a acomodação não satisfaz as profundas
aspirações do coração humano e contrasta com a lógica do Evangelho. Esta palavra pronunciada pelo
anjo no sonho, ouvida e bem acolhida, traz uma mudança radical na vida de José. O homem dos "sonhos"
está aberto às "surpresas" de Deus e aceita sua vontade, mesmo quando isso perturba sua vida. Três vezes
ele sonha e toda vez recebe apenas uma mensagem e uma explicação parcial. Mas, para fazer a vontade
de Deus, não é necessário ter uma visão completa da situação, com todas as consequências e possíveis
desenvolvimentos. Apenas "luz que baste para o primeiro passo" (H. Newman).
... durante a noite ... Esse adjunto adverbial de tempo evoca o caráter simbólico da noite nas Sagradas
Escrituras; destaca e ajuda a entender a espessura do caráter de José, que não recua no momento do
desafio. Como pai, ele deve prover à Criança; como cônjuge, ele deve proteger Maria; e isso, não só
durante o dia, quando tudo está ensolarado e seguro, mas também à noite, quando os obstáculos
parecem ainda mais difíceis de superar.
... tomou consigo o menino e sua mãe ... Em José, admiramos a disponibilidade e a prontidão, virtudes
simples e cotidianas que adornam sua figura; mas as palavras do Evangelho revelam que o centro de sua
vida e sua missão é Jesus: José obedece à ordem do anjo e esta obediência é indicada a cada vez com uma
expressão significativa: "tomou consigo". Tomar consigo mesmo significa guardar, cuidar, compartilhar
iv iv Reflexões sobre s. josé