Page 14 - Reflexão sobre São José
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José contempla seu Filho nos lugares ordinários da vida cotidiana: casa, oficina, pátio, rua e assume
     a atitude de admiração e de  maravilha típica das pessoas que encontraram em Jesus a razão de suas
     vidas.

      "...aquela feliz síntese que o Marello deixou a vocês..."

     O  título  deste  parágrafo  vem  do  discurso  do  Papa  Francisco  aos  participantes  do  nosso  último
     Capítulo Geral, no qual delineou o retrato ideal do Oblato de São José: "Portanto, encorajo-vos a
     continuar a viver e a trabalhar na Igreja e no mundo com as virtudes simples e essenciais do Esposo
     da  Virgem  Maria:  humildade,  que  atrai  a  benevolência  do  Pai;  intimidade  com  o  Senhor,  que
     santifica toda a obra cristã; silêncio e escondimento, unidos ao zelo e à laboriosidade em favor da
     vontade  do  Senhor,  no  espírito  daquela  feliz  síntese  que  Marello  deixou  a  vocês  como  lema  e
     programa: "Sede cartuxos em casa e apóstolos fóra de casa". Esse ensinamento, que está sempre
     vivo na lembrança, empenha a todos vocês, queridos irmãos, a conservar nas casas religiosas um
     clima  de  recolhimento  e  de  oração,  favorecido  pelo  silêncio  e  por  oportunos  encontros
     comunitários. O espírito de família cimenta a união das comunidades e de toda a Congregação" (Aos
     Oblatos de São José, 31.8.2018).

     Sem querer entrar nos problemas relativos às diferentes formas de contemplação, limitamo-nos a
     dizer  que  este  termo  deriva  do  latim  contemplum  ou  plataforma  que  existia  diante  dos  templos
     pagãos, de onde os sacerdotes podiam examinar e investigar o firmamento – as estrelas e os estros
     – para adivinhar os designios das divindades pagãs, para então formular os presságios.

     Pelo contrário, no sentido teológico, contemplar significa ter "o olhar voltado para o Senhor" (CIC
     2709)  para  adquirir  o  "conhecimento  interior  do  Senhor"  e  poder  amá-lo  mais  (CIC  2515).  A
     contemplação ajuda a centralizar a vida em Cristo, conduz à familiaridade com Ele, e favorece o
     conhecimento íntimo da sua pessoa.

     Por outro lado, pode-se falar da dimensão contemplativa da existência, que consiste na atitude de
     reflexão  e  de  pausa  meditativa  para  tentar  integrar  experiências  e  não  se  deixar  dominar  pelo
     vórtice da atividade.

     A  tarefa  de  sintonizar  e  harmonizar  o  nosso  ser  cartuxos  (vida  interior,  contemplação,  estudo,
     oração, recolhimento, tempo de reflexão) com a atividade externa (apostolado, gestão do fluxo de
     informações,  rede  de  contatos  sociais  virtuais  e  reais)  é  um  dos  nossos  desafios.  Trata-se,
     fundamentalmente, de encontrar o equilíbrio entre a oração e o apostolado, entre o anúncio  da
     Palavra de Deus e o tempo dedicado à meditação.

     Infelizmente, acontece muitas vezes que a dimensão contemplativa é a primeira vítima de tantos
     compromissos diários. A cultura atual não ajuda a alimentar uma atitude contemplativa. Imersos
     em  tantos  estímulos,  corre-se  o  risco  de  viver  na  busca  contínua  de  satisfazer  necessidades
     imediatas, e na ansiedade do ativismo.

     Mas, ao mesmo tempo, a dimensão contemplativa é um dos segredos da renovação da vida pessoal
     e da vida consagrada, porque conduz ao conhecimento experimental de Cristo. Só quem O ouviu,
     viu  com  os  próprios  olhos,  contemplou  e  tocou  com  as  próprias  mãos,  pode  dar  um  verdadeiro
     testemunho d'Ele (cf. 1Jo 1,1). Acrescente-se que esta atitude interior não isola a pessoa da história


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